domingo, 12 de setembro de 2010

ENTREVISTA - Em busca da próxima Gisele



Sérgio Mattos não é novato quando o assunto é descobrir talentos da moda e da TV. Há mais de 20 anos de olhos abertos em busca de potenciais sucessos das novelas e das passarelas, foi das mãos (ou dos olhos) dele que saíram nomes que você, com certeza, já ouviu por aí: Isabeli Fontana, Daniela Sarahyba, Raica, Paulo Zulu, Márcio Garcia, Cauã Reymond, Jesus Luz e Gisele Bündchen, a sua maior descoberta ainda hoje. “Aquela mulher é linda. Foi ela que mudou o padrão de beleza na moda para o que conhecemos hoje”, decreta.

Experiente, em 1992, a convite do próprio John Casablancas, dono da Elite, Sérgio abriu a filial da agência no Brasil. Em 2000, foi chamado para trabalhar na Next, em Nova York, quando “toda agência internacional queria um booker brasileiro”, na época em que Gisele experimentava o auge do sucesso e se encarregada de voltar os olhos do mundo para os modelos tupiniquim. Voltou para o Brasil e trabalhou na Mega até abrir a sua própria agência, a 40 Graus, sediada no Rio de Janeiro. Não é à toa que grandes nomes brasileiros da moda passaram pelo caça-talentos.

No próximo fim de semana, Sérgio Mattos é um dos convidados do Workshop WinterFaces, evento promovido pela Ünique, onde vai comandar o workshop “Quero ser modelo. E agora?”, com dicas valiosas para quem quer alcançar o sucesso na carreira. Nesta entrevista, Sérgio adiantou um pouco do que vai rolar no workshop e falou sobre algumas de suas descobertas e a carreira de modelo no Brasil.

O que um caça-talentos faz?
A gente fica sempre de olho. Na praia, na fila do ônibus, numa festinha. Em qualquer lugar pode estar um rosto superinteressante. E eu viajo muito também, minha vida é viajar. É um trabalho que dura 24 horas. Outro dia, por exemplo, fui jurado de um concurso com a Luiza Brunet. Ela tirou da bolsa uma foto da filha da manicure dela e me mostrou. Tem esse lado também. Quando você é conhecido, as pessoas te procuram, indicam outras. Hoje, eu sou mais procurado do que procuro, na verdade. Participo muito de eventos também, palestras e workshops. Fico de olho porque sempre tem alguém interessante. Esse de Brasília até já vi umas fotos e gostei. É sempre assim. O legal é encontrar uma pessoa que se destaque na multidão.

Quando o mercado internacional de moda começou a gostar dos brasileiros?
Acho que foi lá por 1998, 1999. Em 2000, fui convidado para trabalhar numa agência chamada Next, em Nova York, no departamento de new faces. Nessa época, toda agência queria um booker brasileiro. Foi a época da Gisele, da Fernanda Tavares, que são mulheres lindas. Aí o povo começou a prestar mais atenção nos brasileiros. Queriam saber o que tem na água desse país (risos).


Ana Beatriz Barros, Sérgio Mattos e Gisele Bündchen

A culpa foi da Gisele, então?
É, a Gisele foi a grande responsável. Essa menina é linda, né?! Claro que sempre tivemos pessoas fazendo sucesso, como a Beth Lago, nos anos 1970, que foi uma grande modelo. Mas do jeito como é hoje, de mudar mesmo o padrão de beleza, foi sim a Gisele. Foi absurdo. De repente, todo mundo queria imitar o jeito de andar, o corpo, o cabelo. Acho que ainda não tivemos ninguém para substituí-la, mas tem outras meninas fazendo sucesso, como a Isabeli (Fontana), a Ana Beatriz Barros e a Raquel Zimmerman, que são meninas que estão sempre nos melhores trabalhos.

É fácil encontrar novos talentos aqui no Brasil? O que a gente tem que os outros não têm? Qual o grande diferencial do modelo brasileiro?
É muito fácil, principalmente no Sul, que tem um mix maravilhoso de culturas e descendências. Mas o Brasil inteiro tem. Acho que o grande diferencial é a mistura de raças mesmo, que dá numa beleza única, e o suingue. Olha uma russa na passarela e uma brasileira. A russa parece que está marchando, enquanto a brasileira é a própria garota de Ipanema. E aqui tem de tudo. Temos modelos para todos os mercados, desde os mais fashion, como Milão e Paris, até os mais comerciais, como Miami.

Para uma modelo fazer sucesso, é mais interessante ter cara de brasileira ou um padrão mais europeu, mais internacionalizado?
Quem trabalha mais tem que ter um rosto mais internacional, até porque tem mais possibilidades no mercado. Mas hoje todo mundo tem espaço, até asiáticas e latinas, que eram mais incomuns no cenário fashion. Antes era só “barbie”, meninas loiras dos olhos azuis. Hoje, não tem mais isso. Olha a Caroline Ribeiro, que hoje está na MTV. Ela é de Belém do Pará e tem uma beleza bem latina, mas fez o maior sucesso. O mercado hoje aceita bem a beleza exótica, lábios grandes, o cabelo afro, a índia. Tem de tudo.

Você já está nessa área há mais de 20 anos. O que mudou mais ao longo desses anos na profissão de modelo aqui no Brasil?
A coisa ficou bem mais profissional. Além de que o mercado cresceu bastante. É um conjunto, porque, afinal, estilistas brasileiros começaram a fazer sucesso lá fora também, fotógrafos, maquiadores, tudo. Além disso, as pessoas não têm mais medo nem preconceito com a profissão. Lá atrás, se a pessoa dizia que queria ser modelo, nossa, era uma coisa. Hoje, isso acabou, tem revistas, tem novelas que falam disso, a coisa está mais natural, mais normal.

E a internet e as redes sociais, como Twitter, Facebook e Orkut? Mudou muito a maneira como você trabalha? Influencia na procura de talentos?
Nossa, demais! Antigamente eu trabalhava com telefone, um caderninho e só. Hoje, tudo é no computador, é muito mais fácil. Antes, se eu queria divulgar uma menina lá fora, era uma trabalhão, tinha que mandar o book, ligar, falar com um monte de gente. Hoje, com um clique eu coloco as fotos dos modelos na internet e divulgo nas melhores agências do mundo todo. Muito mais eficiente. Até pelo próprio site da agência as pessoas mandam fotos e, se a gente gosta, pede para conhecer pessoalmente.


Isabelli Fontana aos 13 anos com Sérgio Mattos

Você já descobriu alguém pela internet?
Muita gente. É até bem comum. O Weber William, por exemplo, que é um menino que tem trabalhado pra caramba, eu descobri pelo Orkut, com uma foto pequena, horrorosa. Deixo recado, digo para a pessoa procurar a agência e tudo.

O que é mais importante num modelo? Ser bonito ou fotografar bem? O que é determinante para estourar na carreira?
É um conjunto de fatores. Para a carreira fashion, ter pernas compridas e um rosto bonito é fundamental. É a primeira coisa que eu olho. Mas tem que fotografar bem também. Tem meninas que são lindas e não ficam bem nas fotos. Por outro lado, tem meninas que não são assim tão bonitas e, quando fotografam, nossa, você até cai para trás. É o caso da Gisele, acho. Mas também tem que ser profissional, educada, fazer as escolhas certas de trabalhos e ter sorte. Estar no lugar certo na hora certa ajuda.

O que pode arruinar a carreira de quem está começando?
Em primeiro lugar ninguém aguenta gente chata ou desagradável, que não trata bem as pessoas, dá chilique e faz fofoca. Isso queima o filme e depois o cliente não quer mais repetir o modelo. Já recebi várias ligações de clientes dizendo: “Olha, por favor, nunca mais manda essa menina!”. Faltar trabalho, reclamar muito, atrasar também são atitudes que pegam muito mal. Se envolver em escândalos, beber até cair, se drogar, essas coisas todas podem ser fatais em qualquer carreira.

Entre todas as suas descobertas, teve alguma que foi curiosa ou engraçada?
Bom, teve muita gente que foi indicação. O Cauã Reymond mesmo foi uma pessoa que o viu lutando jiu-jitsu que me indicou. Disse: “Nossa, você precisa conhecer aquele menino”. Aí fui lá conhecê-lo pessoalmente e foi um sucesso, ele estourou rapidinho. O Márcio Garcia também foi curioso. Ele foi buscar a namorada na agência uma dia, porque ela estava fazendo umas fotos para mim. Na hora em que o vi, disse: “Escuta, você tem que tirar foto também!” e deu nisso. E tem a Beatriz Arantes, que fez a última novela das seis. Eu a descobri numa Oktober Fest. Imagina, milhares de pessoa naquele lugar, bati o olho naquela menininha parada ali e dei um cartão para ela.

E o Jesus Luz? Como ele foi parar onde está agora?
Também é uma história boa. A mãe dele era cabeleireira de uma assessora minha. E aí ela me indicou, disse que eu tinha que conhecer o menino. Vi, gostei e fiz as primeiras fotos. Ele era new face lá na agência quando pintou um editorial com Steven Klein (um dos mais importantes fotógrafos de moda do mundo) para a revista W aqui no Rio. Ele pediu alguns modelos e eu mandei fotos de vários. O Jesus acabou sendo um dos escolhidos e aí eu nunca mais o vi (risos).

:: PROGRAME-SE
Sérgio Mattos estará no time que ministrará palestras no Workshop WinterFaces. E as inscrições estão abertas (R$ 150) e podem ser feitas de segunda a sexta (13 a 17/09) na loja Débora Bertti que fica no segundo piso do Shopping Conjunto Nacional. Maiores informações: (61) 3541 2500/2600 | 9132 1818.


Fonte: Correio Braziliense, por Carolina Samorano

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